Chega desse vai e volta

Você diz que escreveu um texto...eu escrevi um dicionário, eu escancarei em outdoors da cidade, rascunhei a próprio punho uma enciclopédia do nosso ciclo e de como foi nossa versão juntos. Pintei minhas paredes, o chão, a mesa, a sala. Rabisquei na areia também, mas o mar levou. Eu disse que te amei, mas que foi efêmero. Não durou! Eu e você não resulta em nós dois.

A gente era alma gêmea só pra transmutar. Já passamos por isso antes, em outras vivências, outras vidas. Por isso, a vulnerabilidade. Você ajeita o bigode mal feito e diz que não sabe encerrar ciclos. Mas você me deu o que tive de mais lindo, e invariavelmente me tirou. Mas isso não é um julgamento ou uma sentença de culpa. Eu tive minha própria parcela de decisão. De falta de coragem de a vida gerar. No final, a decisão sempre foi só minha, não importa o que me falasse. Mas isso, isso me atravessou. Eu chorei lágrimas infinitas, me engasguei dormindo, me esqueci o que são noites tranquilas de sono.

Nesse processo todo eu descobri outras formas de amor tão mais genuínas. Outro me amparou, me cuidou, amou, sua energia ele penetrou, enquanto beijava minha testa e acariciava meu ventre, eu vi cores também. E você sabe, eu não vejo e sinto poesia com todo mundo. Olha só a beleza de estender a mão e se abrir pra um mundo e dor da qual não pertencia.

Enquanto isso, você se machucou e também me manifestou. Saiba, eu senti sua culpa e entendo que não tinha mais nada para me dar, quando nem a si se sustenta. Mesmo assim isso me bagunçou. Por isso, eu fiz minhas malas de sentimentos, escrevi àquele último texto e disse que não te escreveria mais.

Mas peguei o avião, me peguei brisada agora e em paz, mesmo depois de fazer as malas de você. Me desfiz e despi de você no ar, na praia, no mar, no mato, na cachoeira, no meu solar. Pedi pra lua minguante te levar, mesmo lembrando que você me disse que não seria um ponto final. Eu voltei à mim e precisei dizer pra mim mesma que era um ponto final sim. Não existe esse vai e volta pra mim.

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