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Não vou me abreviar

Me despeço do pouco de vc   Tem gente que faz pontes   Trincheiras passageiras   Foi rápido e intenso Assustador, como vc repetiu tantas vezes  Sinto como se eu tivesse entrado  num foguete e nem percebi como  tinha chegado lá  E foi bom te descobrir  Muito bom! E ao tentar te adentrar, Eu mais me adentrava  Pontos comuns na jornada Já percebi o que teria que cobrar  Relação amorosa não é acaso É escolha bem feita  Não dá pra negociar coisas  que são inegociáveis, percebe? Tenho observado nossas trocas  E você fala da gente no passado  Eu quero compartilhar os detalhes do dia com você, até perceber que do outro lado só tenho incógnitas.  A mesma coisa que me atraiu Também é o que aos poucos foi me afastando  Não sou mais adolescente para adivinhar mistérios  Reciprocidade não é o máximo, é o mínimo  Observei e decidi se quero fazer morada Ou não aqui. Vou embora, não insisto energia aonde prec...

Me sinto um clichê

Ora agradeço a magia e leveza de ser desimportante, ora lamento como a maior das vítimas do mundo o fato dele não parar toda vez que eu quebro. Início da semana passada eu amava o passar das horas pela beleza que isso me trazia, pelos roteiros planejados, cheiro de maresia, pé ansioso por trilha, gosto de beijo molhado a se encontrar, nosso samba tocando ao fundo. Hoje, eu acordei envolta de sangue, me rasgando a alma e sufocando meu corpo. Eu não consegui agradecer por nada. Nem mesmo as orquídeas novas que brotaram no quintal. Agora eu as julgo deselegantes por não pararem pra me esperar, nem meu tempo, nem minha dor. Como pode se escancarar linda de vida, enquanto eu me morro lentamente?   O mundo não pára para que eu possa me consertar. Queria pegar carona numa estrela cadente pra um mundo distante sem hora pra voltar. Eu tinha só onze quando minha mãe se foi, dezessete na partida do meu pai. Isso significa que venho cuidando de mim há muito tempo. E agora, talvez, eu preciso q...

Autorretrato

Depois de você, Aura Duas versões minhas nasceram A que levanta passa batom e vai pro mundo  A que faz arte com a dor e se liberta  Nunca me senti tão estranha e sem encaixe  nesse mundo  Um corpo e alma sangrando Meu auto-retrato não tem um coração  Mas ele chora seu vazio  Duas faces minhas me suportando  Pq sozinha, sozinha eu não conseguiria  Já me basta viver esse luto sem colo e só  O vermelho intenso cor de sangue  e o preto do meu mais profundo abismo,  tudo isso coexistindo e revelando  o furacão que habita agora em mim 

Parou entre a porta. Ficar ou partir?

O elevador aflito esperava sua entrada. Ficar ou partir: entre falar e agir, os antônimos constantes das poucas certezas e muitas dúvidas. “O medo de me machucar”, você diz. O que seria isso, baby? Você nunca teve a intenção de fazer morada em mim. E eu, eu prometi que hoje me pegaria no colo na sua partida, porque já tinha decidido no meu coração que você não deveria ficar. Mas quando a gente finge não existir as situações na nossa vida, a demora se faz perene. Aí eu te encontro e há sempre uma festa aqui dentro que preciso conter, fechar as janelas e me conduzir sozinha sem música de fundo. Eu passei pelo furacão e tô olhando o que sobrou dessa casa. Por isso, pinto, bordo, escrevo. Escrevo pra me acalmar, enquanto você dorme e não percebe que saí debaixo dos seus braços. Vago pelos cômodos, como uma fantasma, brincando com as entreluzes que invadem as janelas. A dor, ela não é a casa inteira. Agora é um cômodo que vou mudar o tapete, trocar os móveis, acender outro incenso e pedir p...

Chega desse vai e volta

Você diz que escreveu um texto...eu escrevi um dicionário, eu escancarei em outdoors da cidade, rascunhei a próprio punho uma enciclopédia do nosso ciclo e de como foi nossa versão juntos. Pintei minhas paredes, o chão, a mesa, a sala. Rabisquei na areia também, mas o mar levou. Eu disse que te amei, mas que foi efêmero. Não durou! Eu e você não resulta em nós dois. A gente era alma gêmea só pra transmutar. Já passamos por isso antes, em outras vivências, outras vidas. Por isso, a vulnerabilidade. Você ajeita o bigode mal feito e diz que não sabe encerrar ciclos. Mas você me deu o que tive de mais lindo, e invariavelmente me tirou. Mas isso não é um julgamento ou uma sentença de culpa. Eu tive minha própria parcela de decisão. De falta de coragem de a vida gerar. No final, a decisão sempre foi só minha, não importa o que me falasse. Mas isso, isso me atravessou. Eu chorei lágrimas infinitas, me engasguei dormindo, me esqueci o que são noites tranquilas de sono. Nesse...

Me levantar das cinzas e da fumaça

Quando a pior coisa acontece, e todas as coisas que eu temia vêm chamando, diante do mundo que eu mesma construí. Tudo começa a queimar e depois a cair e a vida que eu conhecia vai ficando turva. Mas eu acendo as chamas e peço para ela transmutar as coisas que criei. Tudo isso desaparecerá com o fogo, deixando nada além de cinzas no chão para o vento levar. Neste lugar de sonhos quebrados, você consegue me enxergar e sentir o desespero latente nos meus olhos? Imagino que não, você nem sequer pode me abraçar neste momento. Outros colos me sustentam nesse momento que meus pés não encontram o chão. Mesmo assim, você entrou nesse ônibus que atravessará muito mais que cidades e me deixará imaginando por quê? A vida que construí eu não sabia o custo. Mas talvez alguns custos não são feitos para nós sabermos. Eu precisava, no meu coração, que você ficasse. Mesmo sabendo que, do meu coração, você tinha que ir. Eu não ainda sei normalizar os términos, mas sempre soube respeitar que todo cic...

Para além dos meus quereres

Se eu sou rio como poderia me permitir entrar na sua piscina suja. Repleta de situações mal resolvidas e falta de atitude. Eu puxei uma cadeira do lado de fora e tentei mostrar o que eu via na superfície, algo que fizesse você se movimentar. Foi vendaval, lavagem de roupa suja, flutuar nas nuvens, viver um dia de cada vez. Foi entrega e poucas (ou muitas) verdades ditas. Tampei meus ouvidos para todas as vezes que você já tinha dito “não”. Naveguei sem bússola. Eu sendo mar e rio, adentrando profundamente sua piscina. Sua energia. Nossa energia. Explodimos em outro ser navegante das minhas próprias águas extensas. Ventre fértil, apenas na explosão de cores, fomos transmutar. Eu e você! O afeto que você me foi não deixou de existir, apenas não me cabe mais. É preciso fluir no movimento que o ressignificar exige. Me agarro aos fatos e ações para além dos meus quereres. Entendendo aonde posso, na leveza e parceria, construir lugares de não rompimento. Sou mulher livre, mas de solo firme. ...