Não nos cabe mais, eu preciso ir! (uma nota curta de adeus)

Uma nota curta (de adeus) - Sábias Palavras

Abri uma garrafa de vinho e em questão de minutos virei a última gota. Em um piscar de olhos se foi um maço de cigarros, logo eu que nem fumava mais. To tentando me olhar de fora, com distanciamento de mim mesma. Mas tudo parece tão intenso e bagunçado as vezes. Já me falta discernimento do que quero ou não deixar ir, e do que preciso deixar fluir.

Sexta, 20h20! Aos poucos as mensagens do trabalho vão silenciando e junto com isso todas as minhas ansiedades aqui dentro vão gritando e se escancarando na minha frente. To em casa, mas parece que a prisão da pandemia vai além disso. É uma prisão de alma. Você não percebe? Não nos cabe mais aqui!

Não cabe mais sua risada. Seu café da manhã carinhoso de todos os dias. Suas conversas repetidas e superficiais. Seu beijo de estalinho. Seu toque de organização. Seu companheirismo. Seu cheiro. Não cabe nem mais suas frases otimistas de que tudo vai ficar bem, e principalmente suas angústias escancaradas, mas todas postas debaixo de um tapete que só você não quer ver.

Eu já fui embora de você, dos nossos planos, da nossa vida. Só não entendo por que você foge. Não existe mais um nós, entre eu e você. Não quero cumprir mais protocolos. Quero gritar. Quero me sentir livre como há tempos não me sinto.

Tenho sede de vida. Tenho ganas de coisas que eu nem sei. Mas sei que nesse futuro não tem mais você, não como um par. E acredite organizar tudo isso em ideias tem sido um desafio nos últimos meses. Logo eu, que todo dia tinha um conto romântico pra você.

Agora, me vejo aqui sentada, tão perto, mas tão longe ao mesmo tempo. Te olho e não te vejo mais. E acredite eu quis muito tentar, eu quis muito viver esse leve amor. Eu escrevo cada uma dessas palavras com lágrimas, mas não posso mais tentar me encaixar. Isso está literalmente me matando.

Hoje eu acordei olhando pro infinito, pensando em todos esses processos. E me olhei profundamente, lá dentro, nas entranhas da alma. E entendi que preciso separar as vozes que não são minhas. E que a eu de ontem, de riso solto e cheia de amor pra te dar, já é outra, não existe mais.

E esse agora que estamos vivendo, esse agora é sagrado. Não sei como será minha jornada, mas a única certeza que tenho é que eu quem vou me dar as mãos e me acompanhar por toda vida. Mas para isso preciso conhecer cada vez mais minhas sombras, aprofundar minhas raízes e então seguir transbordando, mas dessa vez quero transbordar sem esse peso. Eu sou intensa, você sempre soube, mas nunca quis olhar! E talvez por isso sempre tenta caminhar do jeito que dá, como se essa intensidade de coisas não endereçadas não tivessem cobrança com hora pra chegar.

Não nos cabe mais, meu amor. eu preciso partir. Te entrego os meus textos bonitos, as minhas palavras não-ditas, as flores que ficaram em cima da bancada, aquele tchau pela metade, um futuro incrível em algum lugar do mundo, o beijo na testa. Te ofereço gratidão, carinho e gostar; a palavra amiga do adeus, sem ressentimentos.

E então pego a chave do carro e dirijo pra não sei onde, sem hora pra voltar. Há cada farol eu choro mais, mas cada suspiro me liberta também. Eu sei que isso é um clichê, mas não é sobre você. E isso, meu amor, não tem como mudar. Gratidão por se (nos) permitir!

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